terça-feira, 14 de junho de 2022

 















Dia 21 de maio aconteceu a oficina de roteiro para História em Quadrinhos dentro da programação do Primeiro Festival Literário de Atibaia. A inserção da linguagem num festival voltado a literatura é de suma importância: Agrega os aficionados, insere a linguagem como importante produto cultural e dá credibilidade ao institucionalizar os quadrinhos numa programação oficial da Prefeitura (caso raro de acontecer!). Na oficina tive a oportunidade de trabalhar os conceitos básicos da produção de um roteiro com participantes de diversas idades e interesses, dentro do melhor espírito de “oficina”, onde a troca de experiência entre os participantes é o que mais importa. No final, produzimos parte de um roteiro a partir de uma pequena historinha inventada por uma criança de seis/sete anos. Foi ótimo! Que outras oficinas aconteçam. (Crédito das fotos: Prefeitura da Estância de Atibaia/SECOM)











quinta-feira, 15 de julho de 2021

Como foi a Exposição de História em Quadrinhos

 





De 26 de julho a 26 de agosto aconteceu a Exposição de História em Quadrinhos do projeto Garatuja – 35 Anos de Arte e Cultura em Atibaia. Na abertura, dia 26 de junho, compareceram cerca de cinquenta pessoas na sede do Instituto Garatuja onde aconteceu a confraternização entre convidados, participantes das Oficinas e frequentadores da entidade, que se organizaram de forma comunitária nos “comes e bebes”.  Também nesse dia foi encartado o fanzine “Prelúdio para o Seu Zé”, de José Aguiar. O material foi produzido durante a Residência Artística que o quadrinista curitibano realizou em março. O encarte reforçou a divulgação da exposição chamando a atenção dos leitores para o evento. Na exposição ficaram expostos diversos gibis do acervo do Instituto das décadas de cinquenta até setenta divididas em cinco temas. No primeiro expositor as revistas infantis como Mirim, Tico-tico, Tiquinho e outros. No segundo as revistas de terror como Cripta, O Estranho Mundo de Zé do Caixão, O Sobrenatural, O Squife e outros. No terceiro expositor foram reservados as publicações com produções nacionais como Bola de Fogo, Vigilante Rodoviário, Capitão Atlas, Capitão Sete, etc. No quarto, os clássicos como Flash Gordon, Globo Juvenil, Raio Vermelho, O Gury, Lobinho. Por fim, o quinto expositor com os originais produzidos pelos participantes da oficina de quadrinhos, além do material de quadrinistas de Atibaia e da cidade Bragança Paulista, cidade que abriga forte atuação na área. Nas paredes a exposição trazia alguns desenhos originais utilizados nas capas de gibis, assim como fotolitos originais de revistas americanas. Tinha ainda uma série de pranchas, também originais, assinadas pelo grande artista argentino Alberto Breccia, além de painéis didáticos sobre o desenvolvimento da linguagem e sua produção. A escola Terra Brasil participou intensamente da programação, trazendo seus alunos em pequenos grupos. Nessas visitas aconteciam um bate papo sobre a história dos quadrinhos, a importância de conhecer o que já foi produzido, o futuro dos quadrinhos e sua aplicação na escola. Também foram exibimos vídeos sobre o tema. Cerca de 250 pessoas visitaram a exposição que foi um grande sucesso. Acima a divulgação realizada pelo amigo Edício Monteiro, que mantém o canal Quadrinhos World.






















































Instituto Garatuja realizou workshop com o quadrinista Aluísio Cervelle.


No centro Aluísio Cervelle ao lado da esposa e desenhista Érica Yamaguchi

Em 2019 o Instituto Garatuja realizou mais um evento voltado à linguagem dos quadrinhos. Dessa vez recebemos o desenhista Aluísio Cervelle, e o workshop “A Produção de HQs”, onde ele passou suas experiências como realizador,  ilustrador e quadrinista. Foi uma ótima oportunidade de conhecer e trocar ideia com um artista que vive profissionalmente do desenho e de forma independente. O processo de criação, realização, divulgação e distribuição foram alguns dos temas abordados nesse encontro. O workshop foi gratuito e voltado a todos os interessados, sem limites de idade.  Aluísio Cervelle Santos é Bacharel em Programação Visual pela Universidade Estadual Paulista. Entre suas publicações estão Zone Lords #1, de 2017, DROPDEAD, de 2015, (Prêmio PROAC), QUAD 1, 2 e 3 (antologia). Além de ter trabalhado com ilustração no Brasil e no exterior. Recebeu o Prêmio HQMIX de Melhor Publicação de Grupo “QUAD 2”, de 2014, além do Prêmio Abril de Jornalismo Melhor Infográfico, 2010 - Melhor Criação de Personagem MOJIZU (EUA). Com os artistas Eduardo Schaal, Diego Sanches e Eduardo Ferigato, Aluísio integra o coletivo Quad Comics, que publica uma série de quadrinhos de ficção cientifica independente. Esse workshop integrou o Projeto “Garatuja – 35 anos de Arte e Cultura em Atibaia”, realização do Governo do Estado de São Paulo, Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo e Instituto de Arte e Cultura Garatuja, através do PROAC.

Os Quadrinhos na Região Bragantina





















Em 1996 aconteceu em Atibaia a primeira tentativa de fomentar a linguagem das histórias em quadrinhos no município. Em junho daquele ano ocorreu a Exposição Itinerante História da História em Quadrinhos, organizada por Álvaro de Moya, através da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo e da Prefeitura de Atibaia. Saiba mais aqui. Na programação, exposição, oficinas e filmes temáticos comentados. O próprio Álvaro de Moya esteve presente, realizando a palestra de abertura da exposição. Na ocasião foi disponibilizado um espaço da Biblioteca Unidade II, do Alvinópolis, para a criação da primeira Gibiteca do município, festejada com muita pompa, com todos os salamaleques políticos de praxe, mas que nunca saiu do papel após a mudança politica acorrida pouco tempo depois. Sem política cultural, infelizmente, essa será a sina de tudo que for produzido na cultura.

Cartaz e programa de 1996
A despeito disso, a linguagem sobrevive, graças a uma ou outra iniciativa de artistas esparsos que produzem pelo amor a linguagem e necessidade expressiva. Um bom exemplo é trabalho desenvolvido pelo Edício Monteiro, de Atibaia, que mantém o canal no Youtube Quadrinhos World, com mais de sete mil inscritos. Veja aqui. Em vídeos semanais o canal comenta e divulga muita informação sobre a linguagem quadrinizada. Poderia citar outros, como a trabalho do Ju Tuck, do Mauricio Clemente Coutrim, etc.  Ao formular o projeto Garatuja-35 Anos de Arte e Cultura em Atibaia para o edital Proac 2018, inclui a linguagem dos quadrinhos, entendendo ser importante valorizar a linguagem na cidade e região, dando visibilidade aos inúmeros aficionados espalhados pela região. A exposição de História em quadrinhos realizada em 2019, na sede do Garatuja, fez parte desse projeto. Nela dediquei uma parte do espaço para o material produzido em Atibaia e região. Convidei então o amigo Merka (Hilton Mercadante) para escrever o texto que segue. O texto integrou a exposição.  

QUADRINHOS BRAGANTINOS
No início dos anos 90, quando saí da capital para vir morar em Bragança Paulista, confesso que cheguei com aquela visão de que fora de São Paulo não havia vida cultural. Aos poucos a realidade foi me mostrando que não era bem assim...
Logo depois de minha mudança comecei a lecionar no saudoso curso de Arte da FESB e tomei contato com uma série de pessoas fantásticas, que desenvolviam as mais variadas e ousadas linguagens artísticas. Entre essas linguagens todas apareceu a turma dos quadrinhos. Quem me apresentou essa moçada foi o Charles Paixão, meu ex-aluno e atual amigo. E percebi que meu trabalho isolado de ilustrador na minha prancheta encontrava eco nos traços e gostos de gente dez, quinze ou vinte anos mais nova.
Foi aí que conheci o André, Alessandro, Roger, Guto, etc. Artistas que produziam um material menos colonizado culturalmente, sem querer ser o novo Frank Miller ou Neil Gaiman. E outros que apesar de não produzirem HQ tinham um trabalho que dialogava com essa linguagem, Betão e Mambera, por exemplo. E fiquei sabendo que havia um fanzine, O Lingüiça Bragantina (com trema ainda), em que toda essa moçada se juntava para mostrar seu trabalho e que contava com a raça do Charles e do Roger pra ser publicado.
Apesar de não ter periodicidade exata e ser publicado de maneira heróica, esse zine resume bem o trabalho de artistas gráficos da região que se dedicam não só aos quadrinhos como também à ilustração. E novos nomes surgem nessa área, parece que os ares da região bragantina estimulam o uso de um bloco de desenho e canetas nanquim. Bia Raposo, Luana, Amanda, Marina Tasca, Hélio, as irmãs Navarro, Alice, Guilherme de Atibaia... a lista é grande. Gente com gás novo e mente aberta, tudo que precisamos em qualquer área, ainda mais nos tempos atuais...
Evoé ao Lingüiça e artistas que o produzem!
Resistimos com traços e balões.

Hilton Mercadante, Merka é professor de arte e artista gráfico. Autor de “Crônicas da Pindahyba”, “Assim nasce um bicho-papão” e “Filhos da Mata”

domingo, 2 de dezembro de 2018

MAUS, de Art Spiegelman, o melhor quadrinho de todos os tempos.




















Nada mais atual que revisitar o maior quadrinho de todos os tempos: MAUS, de Art Spiegelman. Está tudo lá: O preconceito, a maldade humana, a negação das minorias, a manipulação e a mentira como verdade. Lembra-te alguma coisa? A qualificação “o melhor quadrinho de todos os tempos” não é minha, e sim dos inúmeros críticos e conhecedores profundo da arte quadrinizada, reforçado com o Prêmio Pulitzer, de 1992. Com MAUS o quadrinho passa a ser, definitivamente, arte.  Impossível percorrer suas páginas sem conter as lágrimas que escorrem furtivas pelo rosto. E não é só tristeza, por incrível que possa parecer, o autor arranca alguma situação irônica do maior e mais triste período histórico da humanidade: o holocausto. Seu trabalho é autobiográfico e percorre esse período através do depoimento de seu pai, que viveu na carne as agruras da guerra como prisioneiro do campo de concentração de Auschwitz. Na obra, os judeus são ratos (em alemão: maus), os nazistas gatos, os franceses sapos, os poloneses porcos, os americanos cachorros, e por aí vai, no melhor estilo dos animaizinhos representando gente, comum nos quadrinhos e nas animações. Mas não se iludam com o aparente uso de antropomorfismo para “amenizar” a obra. Até aí tem um forte apelo simbólico ao tratar os judeus como ratos, ao mesmo tempo em que questiona o ratinho Mickey Mouse, símbolo do consumismo americano. A associação do povo judeu aos ratos foi usada à exaustão pelos nazistas para desqualificar a raça e justificar o que aconteceria depois. Logo no inicio da obra o autor destaca uma frase de Adolf Hitler: “Os Judeus são indubitavelmente uma raça, mas eles não são humanos.” Tudo isso é assustadoramente atual, e nos mostra as semelhanças entre aquele período inicial e os dias de hoje, quando todos achavam que pequenos delitos jurídicos e intimidações por parte de quem detém o poder, não levariam a nada... E deu no que deu. MAUS, como todo clássico, é para ser lido e relido. Sua profundidade temática e até estética (tem muitas sutilezas nos desenhos), podem ser vistas pelo prisma psicológico (sua relação com pai), histórico, literário, etc. Daí sua dificuldade inicial em achar o seu lugar nas prateleiras das livrarias: Na sessão quadrinhos? História? Diversão? Ficção? MAUS é obra prima, e como tal, qualquer tentativa de enquadra-lo é dispensável.

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

O estranho mundo de Zé do Caixão, um clássico

Acervo Garatuja





















Em janeiro de 1969, surgia nas bancas de São Paulo, e depois no Brasil inteiro, a revista em quadrinhos O Estranho Mundo de Zé do Caixão, título de um dos filmes mais famosos de José Mojica Marins, o Zé do Caixão. Esse gibi surgiu graças ao genial R. F. Lucchetti, roteirista e idealizador do projeto. A revista se tornaria um ícone do quadrinho nacional, graças às inovações que já vinham desde as tentativas anteriores de Lucchetti e do desenhista Nico Rosso com a revista A Cripta - outro divisor de águas do quadrinho de terror nacional. Mas em O Estranho Mundo de Zé do Caixão a dupla foi extremamente feliz. As inovações começavam no tamanho maior da revista, totalmente diferente das demais revistas publicadas na época. Nas 52 páginas internas uma série de novidades que as tornariam únicas. A começar pela temática genuinamente brasileira. Sem as influências do terror europeu, as histórias vinham do imaginário popular brasileiro ligado à magia negra, à macumba e aos rituais satânicos, com personagens e tipos físicos facilmente identificáveis com o nosso povo. O desenho primoroso de Nico Rosso e o uso acentuado do meio tom valorizavam o enredo, criando um clima “noir”, imprimindo maior dramaticidade à história. A revista trazia ainda a figura do narrador em fotografia, e não desenhado como era comum. Nesse caso, o Zé do Caixão era o próprio narrador. Trazia ainda a adaptação em fotonovela do filme O Estranho Mundo de Zé do Caixão. Tudo isso compunha a melhor adaptação já feita do cinema e da televisão para os quadrinhos, sem perder a essência da linguagem quadrinizada. A ideia da revista surgiu de Lucchetti, que um ano antes escrevera os scripts do programa de televisão apresentado por José Mojica Marins aos sábados na TV Tupi de São Paulo. Com os originais da revista na mão, que levava o mesmo nome do programa televisivo, Lucchetti inicia uma exaustiva peregrinação pelas editoras da época. A Editora Prelúdio acaba aceitando o desafio. E, mesmo custando mais que as demais revistas, acabou tornando-se um grande sucesso. Porém - e sempre há um porém, algumas situações anteciparam o fim da revista. Os bastidores da História em Quadrinhos estão repletos de situações ligadas a traições, disputas e puxadas de tapetes, desde os primórdios da linguagem, como a conhecida disputa entre Pulitzer e William Hearst, passando pela extinção da Editora Outubro e outras histórias. No quarto número de O Estranho Mundo de Zé do Caixão, Lucchetti e Nico Rosso foram surpreendidos pela noticia da venda da revista para outra editora. O negócio foi feito pelo próprio José Mojica, que aceitou, segundo ele, uma proposta irrecusável. O fato é que a mudança causou desconforto geral e antecipou seu fim. O número seguinte da revista, publicado pela Editora Dorkas, ainda continha matéria da dupla Lucchetti/Nico Rosso, mas sem os devidos créditos. As mudanças da nova editora não tiveram o mesmo sucesso dos números anteriores e a revista parou depois de publicar somente mais duas edições. Esse fato contribuiu para a falência da Editora Prelúdio, que havia investido fortemente no projeto ao adquirir grande quantidade de papel para sua impressão. Após acordo entre os envolvidos, uma segunda tentativa de publicação a revista aconteceu em 1970. Dessa vez, com o nome Zé do Caixão no Reino do Terror, uma vez que o nome anterior pertencia agora a Editora Dorkas. Não deu certo, a galinha dos ovos de ouro estava morta. No acervo do Garatuja guardo com carinho essas raridades. Algumas delas adquiri do próprio amigo Rubens Francisco Lucchetti, que fez anotações na revista salientando esses fatos. Essas revistas são, sem dúvida, clássicos da linguagem dos quadrinhos. Esse termo, apesar da infinidade de definições, traduz com eficiência a sua importância: “Clássico é uma obra que, por sua qualidade tem valor reconhecido, constitui um modelo e é uma referência.”




quinta-feira, 7 de setembro de 2017

O talento do Affonso...



















Enquanto arrumava o atelier me deparei com uma pasta que já guardo há algum tempo. Nela uma história em quadrinhos em processo, pela metade, feito por um garoto que um dia bateu na porta do Garatuja. Com a pasta embaixo do braço, tímido, disse que gostaria de mostrar alguns desenhos que havia feito. Ele soube do Garatuja através de uma professora da escola onde estudava. Na época não havia nenhum projeto em andamento que pudesse encaixá-lo. Há pouco tempo havia encerrado a última oficina voltada a interessados de baixa renda e não havia nada em vista para os próximos meses. Affonso era de família humilde, sem recursos para bancar uma mensalidade, e diante de seu talento, me prontifiquei em ajudá-lo a concluir a historia em quadrinhos. Faria isso sem cobrar nada. A história estava só no lápis, mas dava para ver seu enorme talento: traço preciso, noção de enquadramento, timing narrativo e uma história interessante.

Caderno cheio de roteiros...
Apesar dos visíveis condicionamentos, o roteiro foi o que mais me chamou atenção, principalmente pela qualidade da trama. Affonso deveria ter uns 15, 16 anos e de forma intuitiva já dominava a linguagem com segurança. Minha intenção era ajudá-lo a terminar a história que havia começado e imprimi-la de forma caseira, tipo um fanzine, para que pudesse vender mais tarde aos colegas e professores da escola. Reservei os sábados à tarde para ele e nesse período passei as primeiras noções da técnica do nanquim, da canetinha e do pico de pena. Depois de marcar presença por alguns sábados Affonso começou a faltar, talvez por falta de grana para a condução. Até que desapareceu de vez. Uma pena! Fiquei com seu material mas não tenho seu endereço. Em situações como essa fica clara a importância dos apoios institucionais, via convênios ou editais, para as iniciativas culturais. Sem elas muitos Affonsos ainda deixarão de lado seu talento para cuidar da sobrevivência.